sexta-feira, 19 de julho de 2013

Para refletir

Há algum tempo tenho pensado no que é o contentamento. Não a ~felicidade~, a ideia utópica de entrar num estado permanente de levitação sorridente e que supõe ter vencido o 'mal' para sempre. É contentamento.
Contente é satisfeito.
Vem do latim Contentus, satisfeito, particípio passado de Continere, que é conter.
Quem está contente está pleno. É como você estar com fome e comer na medida do tamanho do seu estômago e não do olho gordo. Quando você come bem e mata a fome, está contente e feliz. Se come demais, além do que pode conter, você fica estufado e infeliz.
Contentar-se, portanto é sentir a alegria de estar preenchido na medida do seu cabimento. É ter o que lhe cabe, nem mais nem menos.
Contentar-se não é conformar-se. Conformar-se é aceitar o que vem do jeito que vem. É assumir a forma do que vem. Contentar-se é preencher-se na medida certa. Não é só forma, mas também conteúdo. Não é só o quanto, mas o quê. E o como. Conformar-se tem um lado legal de aceitar as coisas como elas são, mas nos remete a um estado de vitimização, às vezes. De ser coitadinho, de não exigir, não querer, de subjugar-se. Aí não pra pra ficar contente. Estou falando de outro estado de alma.
Um exemplo fácil pra entender o contentamento vem pela negação, quando estamos descontentes.
Ficamos descontentes quando o mundo não nos reconhece, quando não dá valor ao nosso trabalho, ao que somos. Sentimos que temos um tanto a ser correspondido e a correspondência (resposta conjunta) não vem. Fica então um vazio. Porque você não se satisfaz com o pouco que o mundo devolve. Você acha que merece, precisa de mais. E aí você corre o risco de entrar por um caminho horroroso, o de começar a se comparar com outros que têm mais que você (mais sorte, reconhecimento, bens, oportunidades) e que você acha que ~merecem menos que você~.
Mas há também outro problema, que começa quando há um descompasso entre o quanto você realmente comporta, o quanto lhe cabe e o seu desejo de ter. Porque embora você tenha uma dimensão finita em termos materiais (peso, altura, idade, energia, etc.) o seu desejo pode não ter limites.
Às vezes sua vida comporta menos do que você deseja. E aí, o tanto que lhe caberia, o que teria cabimento e lhe faria contente, parece pouco. E você fica infeliz. E vai desejando mais e mais e mais e nada parece satisfazer. O ícone clássico desse estado é a 'pobre menina rica' que tem tudo e não tem nada, que só tem dinheiro e não tem alegria. Ó.
Tenho estado contente. Não porque tenho mais do que já tive, mas porque preciso de menos do que pensei. Porque o que me cabe e me deixa feliz já está a meu alcance. Se você já passou dias e dias de chinelo na praia, comendo quando tem fome, dormindo quando tem sono, bebendo quando tem sede e deixando a brisa levar seus pensamentos você sabe como é esse estado de contentamento.
Esses sonhos loucos de ganhar o Nobel, o Oscar, o Pulitzer, o Esso, entrar pra Academia de Letras, pra lista da Forbes, essas megalomanias que adquirimos pelo excessivo consumo de mídia, são legais quando acontecem, pra quem elas acontecem. Usar essas exceções como parâmetros de felicidade é pura desinteligência. Imagine, você só vai ser feliz SE e QUANDO ganhar um prêmio? Ficar rica? Encontrar o grande amor da sua vida? Tiver sua empresa? Comprar uma Ferrari? Viajar o mundo? Por que não sentir-se contente tendo o que lhe cabe AGORA? E, em não tendo o que lhe cabe, que tal conter suas ilusões e diminuir o vazio, pra ficar satisfeita com um conteúdo menor?
Eu sei que falar é fácil, mas as palavras organizam nossos pensamentos, que realinham nossos sentimentos também. E isso ajuda muito a polarizar nossas confusões mentais, orientar nossos spins interiores. Conceitos são nortes que fazem nossa bússola mostrar o caminho.
Portanto, se você vive ansioso, se nada lhe agrada, se você só tem vontade de criticar, se a sua busca nunca termina, se sua fome não passa, se nada lhe sacia, se você não sabe mais como ser feliz, se virou adepta do 'I can get no satisfaction', pare tudo. Comece olhando pra dentro de si e vendo seu real tamanho. Seu real espaço. Redimensione-se. Trate-se como se fosse uma casa que você esvazia para reformar. Tire tudo, limpe, reforme, conserte vazamentos. Depois que a infraestrutura estiver reconstruida, pinte as paredes e redecore-se. Até que fique tudo arejado. Até que as coisas sejam proporcionais e harmônicas. Na medida certa, no lugar certo.
Porque você sabe, às vezes até o tamanho do nosso drama é irreal. É só um desejo desmedido de chamar atenção para ter mais do que se pode suportar e ser mais do que se é.
O desmedido é o descabido. É o descontente.
E viver descontente não tem cabimento.
Contenha-se. Caiba-se. Contente-se.E seja feliz.

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